quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Quando fomos comer um lanche.

Ocupamos uma mesa dentro de uma casinha de lanches. Estávamos cansados pelo dia intenso de trabalho e eu e minha esposa resolvemos comer um lanche antes de irmos para nossa casa em uma chácara a aproximadamente 30 kms de Cuiabá. Já passava das 19:40 quando chegamos e pedimos duas cervejas antes de pensar no pedido do lanche propriamente dito. Chovia manso porem constante e ao sairmos do carro tivemos que nos apressar para não molharmos. A TV estava ligada em um importante jornal que ainda dava as manchetes das notícias principais da noite. Mais uma vez a primeira notícia era sobre a terrível tragédia de Brumadinho em MG e as “famosas punições” à empresa causadora e que todos nós sabemos serão cumpridas em um percentual mínimo. Minhas tentativas de acompanhar tais notícias duraram pouco pois fui tomado por uma espécie de surdez causada por diversos agentes que circundavam o local. O primeiro foi o barulho ensurdecedor da chuva no telhado de zinco. Logo depois veio o carro de som que desrespeitando todo e qualquer direito dos cidadãos, passou por diversas vezes nas duas pistas da avenida gritando quase que enlouquecido a notícias de uma cadela Pitbull que havia desaparecido no bairro e cujo dono prometia uma recompensa a quem a encontrasse. Parecia que o motorista operador acreditava que ficando mais tempo naquelas redondezas aumentariam as chances de ela ser encontrada. Por minha vez eu pensei em me levantar e ir cerca-lo na rua para informar que eu já tinha entendido o recado em sua primeira passada. Naquela altura do campeonato eu já não entendia quase nada do que se falava a minha volta e sentia uma imensa saudade do Rancho 83, nossa moradia abençoada por Deus e pela natureza sempre generosa e silenciosa. Como eu gostaria de trocar aquele ensurdecedor barulho pelo silencio ensurdecedor do Rancho. Incomodado com aquela situação eu achava que não podia piorar, mas então eis que do outro lado da rua os evangélicos que aguardavam a passagem da chuva, e vendo que ela não pararia, resolveram iniciar o culto através de um sistema de som caseiro porem potente. Ao ouvi-los nos olhamos rapidamente com caras de incrédulos. Pensei! Só faltava essa! No início tentei não dar muita bola e mau ouvi o que o primeiro locutor falou. Em seguida veio uma música cantada por uma voz que não era de tudo desafinada e depois um senhor que foi convidado a dar um testemunho. Quando ele iniciou sua fala tentei agir como fiz em relação ao primeiro, mas em pouco tempo minha atenção estava toda em suas palavras. O que me chamou a atenção não foi sua capacidade de formação de frases e pensamentos lógicos. Ao contrário ele não conseguia dar sequência aos raciocínios que tentava formar. A sua crença de que ele estava ali formando opiniões em favor da palavra de Deus foi o que chamou atenção. Ele fazia isso com tanta certeza de estar no caminho certo que me emocionou... Pensei! Assim como ele conseguiu o milagre de me fazer esquecer o grande barulho a nossa volta, que Deus faça na vida dele um grande milagre.